As despedidas são sempre dolorosas, mas estão, inevitavelmente, presentes em nosso viver. Temos que conviver com o fato de que tudo muda, termina, esgota-se, sendo, este, o ciclo inexorável da vida. Nos despedimos de lugares, de hábitos, de empregos, de casamentos, de rotinas, de pessoas, de algumas partes de nós. Sim, há muito que vai morrendo em nós. Já não sou a mesma garota impetuosa, às vezes, até geniosa, mimada, mas também, sempre, muito verdadeira, alegre e brincalhona.
A única certeza que podemos ter é de que tudo chega ao fim, e, esta, não me foi passada na infância. Fui criada como se a vida fosse um conto de fadas, protegida da real face da vida, sua beleza, mas também sua inegável feiura, sendo que o processo de amadurecimento foi penoso. Será que não seria melhor preparar nossas crianças para a realidade? Ensinar desde cedo que a única certeza que podemos ter, em nossa permanência aqui, é que vamos partir. Uns mais cedo, outros mais tarde, uns calmamente, outros dolorosamente, ou até tragicamente. Será que enfrentaríamos as despedidas eternas, melhor?
Sei que quando a possibilidade de um reencontro, um rever, é incerto e não crível, tudo fica mais difícil e triste. Por mais que saibamos que chegou a hora, que a pessoa estava sofrendo muito, já tinha muita idade, a despedida é dilacerante.
Dia 18/12/2024 às 08:40 minutos, de uma quarta-feira nublada, meu amado filho deu seu último suspiro, já sedado. Consegui, ainda lhe dizer do meu imenso amor, que ficaria eterno em mim e que fosse em paz, que nossos entes amados e espíritos amigos iriam lhe acolher. Foi desesperador assistir seu sofrimento, sem conseguir minorar sua dor. Meu querido foi muito valente. Lutou até o fim, querendo viver e curtir o que a vida ainda poderia lhe oferecer. Ficaram coisas não ditas, um vazio e uma tristeza avassaladoras.
Ainda vou trilhar um longo caminho para conseguir me despedir melhor de tudo que ocorreu nestes últimos dois anos. Um filme de tristeza, terror, comédia e muita emoção pois foram encontros, situações, lutas, vivências e muito, muito aprendizado. Há muita turbulência interna e, talvez, ainda leve algum tempo para eu conseguir me despedir em paz, de tudo que vivi nestes últimos anos.
Cida Guimarães
25/12/2024