Sentindo-me como um galho solitário, o único restante, de uma árvore, quase seca. Perdeu ao longo dos anos seus outros três galhos maiores e alguns menores. O tronco da árvore permanece vivo em mim, e tento me alimentar com os nutrientes, que me deu, mas sinto-me vazia, oca. É uma sensação ruim e triste!
Este sentimento decorre do fato que, hoje, perdi meu último irmão ainda vivo, o mais novo, antes de mim. Deu seu último suspiro, de madrugada. Parada cardíaca. Foram 15 dias internado, e seus órgãos vitais já estavam em falência.
Em meu último contato com ele, dia 26/12, me disse que queria sair dali (UTI), ir para casa, que não queria morrer no hospital. Falei que o amava e ele me disse que também me amava. Foi bom ouvir já que não acreditava muito nisto.
Nunca fomos próximos, e tivemos algumas rusgas. Não trocávamos confidências e quase não nos falávamos. Em criança, lembro de uma vez que bravo comigo, eu era bem implicante, naquela época, me deu um soco, que arrancou um dente de leite, que já estava quase caindo. Fiz um escândalo e meus dois outros irmãos queriam bater nele. Correu e subiu na árvore mais alta, de nosso pátio, e ali ficou por longo tempo até o Laerthe e o Zé, saírem dali pois os dois diziam que iam lhe pegar se descesse.
Quando eu era uma pré-adolescente, com 10 e ele com 17, ficamos doentes do pulmão, ao mesmo tempo. Naquela época, antes de um novo ano letivo, éramos obrigados a fazer um raio X do pulmão e ambos acusaram problemas. Meu era só a pleura, do Claudio era tuberculose, mesmo. Juntos e por um ano ficamos, em quartos separados, com uma dieta rica, lendo, ele Tarzan e eu Delly e cobrando nossos pais por cada injeção de penicilina, que tomávamos, a cada dia. É, nos anos 50, a tuberculose matava e era ainda de difícil tratamento, havendo forte preconceito, como hoje há em relação à outras doenças, ainda incuráveis.
Depois, quando eu já adolescente, íamos juntos a bailes (as festas ou baladas de hoje). Minhas netas morrem de rir quando eu falo baile e outras palavras que já não fazem parte do vocabulário atual. Ele me vigiando, e às vezes me falando de seus "crushes", ou tendo suas crises existenciais. Era um eterno apaixonado, sofredor e talvez, muito ingênuo, mas autêntico, verdadeiro em sua forma de ser. Sofria com as criticas dos irmãos mais velhos, que não o levavam muito a sério, e cobravam que fosse diferente. Por que não aceitamos as pessoas como elas são? Por que há que comparar? Lembranças que hoje vem a mente. Que bom que tenho o que recordar, e que ficará eterno em minhas recordações.
Quando penso que só restou eu, que minha família tronco, foi-se, e que há 17 dias perdi um broto de meu galho, parte essencial de mim, sinto-me como um galho perdido, de uma árvore meio torta, meio vergastada.
Será que estão reunidos colocando o papo em dia? Será que meus pais, irmãos, sobrinho, e até meu filho querido, estão dando dicas e ajudando-o a adaptar-se a seu novo estado, nova realidade? Muitas indagações! Muitos sentimentos! Muita tristeza!
Cida Guimarães
04/01/25
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