Lembro que em determinada estação, hoje não sei precisar qual, ajudávamos a ensacar as frutas para as proteger dos insetos. Adorava fazer isto. Papai nos dava alguns cruzeiros, (anos 50). Colhíamos muitas frutas, que os parentes e vizinhos levavam em sacolas. Mamãe também preparava vários doces em calda: figo, laranja azeda, doce de batata doce.
Deliciosos! Consigo, hoje, ainda, sentir o cheiro e sabor. Incrível como lembramos cheiros e sabores.
Anos
mais tarde, meu pai plantou um canteiro só com roseiras. Ele amava, em suas horas de folga, pegar uma
enxada e revirar os canteiros. Era um terreno longo de mais de 30 metros. Bem ao fundo, havia um galinheiro.
Era muito especial colher os ovos e ver as galinhas voando de poleiro em poleiro, cacarejando alvoroçadas. Amava a cena! Era tudo muito de repente; com minha entrada, o caos se instalava. Assim é na vida da gente; o inesperado nos tira de nosso eixo. Esta é, talvez, uma lembrança marcante de minha primeira infância.
Era muito especial colher os ovos e ver as galinhas voando de poleiro em poleiro, cacarejando alvoroçadas. Amava a cena! Era tudo muito de repente; com minha entrada, o caos se instalava. Assim é na vida da gente; o inesperado nos tira de nosso eixo. Esta é, talvez, uma lembrança marcante de minha primeira infância.
Não tinha muitos amigos, mais imaginários que reais, e meus irmãos eram bem mais velhos. Me encantava criar histórias encantadas com minhas bonecas e meus diversos bichinhos de estimação. Tive um porquinho da índia, que amava vestir, e arrastar em minhas aventuras pelo pátio e vizinhança. Anos mais tarde, tive uma tartaruga. Minha diversão era fazer a Julieta colocar a cabeça fora do casco. Eu dava soquinhos no casco e chamava: “ Jujú, vem pra fora.” Hoje penso que há muita gente como a Julieta, que se esconde do mundo, que pode ser muito inseguro, apavorante.
Meu pai tinha um papagaio, Zacarias, mas com exceção de meu pai, Zacarias não deixava ninguém se aproximar. Bicava e xingava com o palavrão preferido de meu pai. “Que merda! “ Manhã cedo gritava: “ Louro quer café.”
Para
desespero de meu pai, um dia o louro
sumiu. Mamãe alegou que esquecera de cortar suas asas e que devia ter alçado
voo e se perdido. Papai custou a se consolar. Algum tempo mais tarde comprou
outro, mas não era igual. Nada é. Tudo é
substituível, mas não igual.
Ele
nunca soube a história real. Rebeca, cadelinha pinscher
da mãe, junto com seu filhote Sheik haviam depenado e matado o pobre Zacarías.
Mamãe encontrou as penas e seus restos, pelo pátio. Horrorizada nunca falou ao
papai, e nos proibiu de contar a verdade,
Mentirinhas. Contamos algumas para evitar desentendimentos, tristezas, mas a verdade dói em nós.
Mentirinhas. Contamos algumas para evitar desentendimentos, tristezas, mas a verdade dói em nós.
Cida Guimarães
26/03/22
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