Em toda a família há o rejeitado, menos favorecido, e há também a ovelha negra. Aquele que rompe com os padrões, rejeita o estabelecido.
Imagino que, talvez, meus irmãos tenham se sentido, preteridos, em desvantagem com meu nascimento, e os mimos, mas minha posição não foi mais confortável. Era muito cobrada, e privada de ter companheiros, amigos. Há mágoa? Tristeza talvez, mas consigo entender o lado deles. Eles me consideravam rebelde, brava, e acredito que sou, ainda, em determinadas situações, quando sinto que meus direitos não estão sendo observados, ou há injustiça. No passado, entretanto, era minha reação à muito controle, à muita crítica. Sempre há os dois lados de uma história: há a rejeição porque o ser em questão é mais rebelde, não adere ao estabelecido, confronta, questiona, quebra regras; e o do rejeitado, que se sente preterido, não considerado, não amado, não validado e incluído.
“Existem somente duas palavras que sempre levam você ao sucesso - sim e não.” Jack Canfield
Aceitação, como a própria palavra expressa, implica em concordância. Estamos satisfeitos e aceitamos a nós mesmos, nossas escolhas, a maneira de ser/agir do outro, e seus valores. Aceitamos ou validamos algo, ou alguém quando o mesmo está em sintonia, com o que julgamos correto, bom, e nos é familiar. Também, quando admiramos, e gostaríamos de ser como alguém. Há uma identificação, reconhecimento, e inclusão, seja em nosso ideário, círculo de amizades, ou grupo familiar/ social.
Tudo que nos é similar, que não confronta nossos padrões comportamentais, é mais fácil de aceitar, integrar, e é bem-vindo; aquilo que diverge, rompe com estruturas de pensamento e comportamento, tende a ser, imediatamente, rejeitado por divergir, questionar o que consideramos certo, nossa verdade. Também acontece quando nos amedronta, e coloca em xeque nossas certezas.
A aceitação e /ou rejeição está presente em todos os campos de nossa vida, desde o seio familiar, escolar, profissional, e no amoroso.
Eu sou a temporã de 4 filhos, 3 homens. Cheguei 7 anos mais tarde. Portanto, a menina que veio ao mundo, quando não era mais esperada, a Maria Aparecida, que apareceu.
Nasci em uma época que meus pais estavam melhor de vida, e fui muito mimada. Tive mais oportunidades e pude cursar: piano, teoria e solfejo, balé, inglês, desde pequena, além de viajar mais, com meus pais. Lamentavelmente, isto gerou ciúmes nos irmãos, que ao invés de brindarem minha chegada, acredito se ressentiram muito, de meus privilégios. Até a casa da praia ganhou meu nome. Placa que na 2.ª reforma, meus irmãos deram sumiço. Ao longo de minha infância, ao invés de serem meus amigos, foram segundos pais, sensores, críticos ferozes, que ao invés de me validarem, só me inibiram com suas constantes críticas, observações, e cuidado excessivo.
Nos bancos escolares, é possível observar como um grupo de alunos pode rejeitar alguém que não adere aos ritos de roupa, linguajar e modo de agir, específicos de determinada faixa etária/social. O "bullying" é um produto extremado desta rejeição, que se origina de preconceitos, e de mentes rígidas, que não lidam com o diferente. Nas relações amorosas isto também ocorre. Há, inevitavelmente, em qualquer desfecho amoroso alguém que vai se sentir rejeitado. É a vítima? Não, necessariamente. Acredito que ninguém o é, pois, cada qual tem que ser responsável por suas ações, e cada ação tem sua consequência.
Atualmente, vivemos um período de muita exposição, e de busca de validação nas redes sociais. O resultado de tanta exposição é uma polarização de ideias. Há uma rejeição forte, de um lado, às ideias de cunho social, que procurem minimizar as disparidades sociais, e que tendem a ser reduzidas a esquerdismos; e as de direita, super liberais, que privilegiam as elites, e acabam sendo negacionistas.
Toda rejeição implica em sentimentos de antagonismo, mágoa, tristeza, inadequação, baixa autoestima. É necessário trabalhar estes sentimentos negativos, os substituindo por outros, de aceitação, e da busca do positivo.
O que a situação trouxe de bom? O que te levou a descobrir em ti, nos demais? Que possibilidades foram abertas?
Em toda aceitação há uma rejeição, e na rejeição uma aceitação. Fazer escolhas é difícil, mas é o que temos que fazer diariamente: escolhendo e rejeitando de acordo com nossos valores, gostos, hábitos e estilos de vida. Nossas escolhas ditam as consequências. Uma não vive sem a outra. Aceitamos algo porque excluímos outras opções; e na exclusão, aceitamos a opção que nos parece melhor.
Teremos, em 2022, nova oportunidade de fazer uma escolha, e tomara que o povo não aceite ou vote em alguém somente por rejeitar determinada opção. Há que analisar com muita calma para definir o que aceitar na nossa rejeição, e o que escolher. Na minha visão, há que olhar para o indivíduo, sua história pessoal, seus valores de vida, e não somente o partido que representa.
Cida Guimarães
20/09.2021
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