Penso que somos todos sozinhos; cada um de nós, em nosso mundo individual, que abrimos para tão poucos. Paralelamente, nunca estamos, inteiramente sós, temos espíritos amigos que nos acompanham, e, outros, que nos atordoam, e temos nossos eternos pensamentos.
Como Érico Veríssimo diz, abaixo, nossos pensamentos são nossos companheiros de todas as horas. Precisamos controlá-los, limitar sua importância, não deixar que nos dominem.
Se temos nossos pensamentos, não estamos sós. Que sensação horrível quando estamos em meio a outros, e nos sentimos mais sós do que nunca porque os demais não estão interessados em nosso eu real, sendo tudo superficial, sem troca, sem emoção. Precisamos fazer a viagem interior, conhecer melhor nossas ideias, pensamentos, e as emoções que desencadeiam.
Há muitos momentos em que gosto de estar só, e não me sito solitária, nem triste. Preciso de meu espaço, meu tempo. Tempo para ser eu mesma, para organizar ideias, repensar coisas, imaginar, planejar. Há, outros cenários, entretanto, que podem ser bem assustadores.
Fui uma criança muito sozinha por não ter irmãos de minha idade, e meus pais serem super protetores, envolvidos com seus próprios afazeres. Brincava com minhas bonecas, inventava histórias, diálogos. Nunca fui de ter muitos amigos. Alguns poucos, ao longo da adolescência. Aprendi, desde cedo, a conversar com meus botões. Depois, fui superando minhas inadequações, ficando mais social.
Solidão, é uma palavra, um sentimento, que significa coisas tão diferentes para cada um. Há pessoas que podem adoecer de solidão, entrando em depressão; outros, a temem tanto que preferem ficar em relacionamentos ruins para não ficarem sós, ou terem que lidar com este sentimento.
Geralmente, os velhos sofrem de solidão. Parece que alguns já se desligaram, e estão em seu mundinho paralelo. Talvez, devido a problemas de surdez, desinteresse dos demais, em ouvir suas histórias repetidas. Lembro bem de meus pais, em seus últimos anos, quase sempre alheios ao que estava rolando, ou recontando suas velhas histórias. De alguma forma já haviam se desligado desta época, e estavam revivendo, o que foram suas experiências felizes.
Me surpreendeu, entretanto, uma pesquisa, na Inglaterra, que constatou o crescente índice de jovens solitários, e que a solidão vem sendo um problema na juventude, e da atualidade. Por que será? Quando temos, hoje, tantos meios de comunicação, tantas redes sociais? Talvez porque tudo seja muito superficial, a comunicação não é do meu EU (Real) com o Teu EU (Real), e sim com nossas fachadas sociais. Quando não conseguimos uma interação efetiva, quando não somos reconhecidos em nossa essência, voltamos para o nosso esconderijo, nosso casulo.
Nesta pandemia este sentimento de isolamento, não pertencimento, aflorou, se disseminou, de forma avassaladora, devido a estarmos, todos, forçosamente, isolados e impossibilitados de ver/ estar com seres amados, a transpor fronteiras, a ir e vir, como estávamos acostumados. Tivemos que mudar hábitos, e buscar novas formas de contato.
Quando estamos sós temos que lidar com nossos diabinhos interiores, analisar nossos pensamentos, emoções, fazer a viagem interior que pode ser tão penosa, mas também pode iluminar nosso caminho, sinalizando equívocos, e apontando direções.
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